terça-feira, 17 de agosto de 2010

A abordagem positivista de Émile Durkheim: a realidade objetiva dos fatos sociais



- a realidade objetiva dos fatos sociais, - ou de não admiti-lo sem reservas. É, pois, sobre este princípio que tudo finalmente repousa, e sempre se regressa a ele (Durkheim, 1977, p.XXXII).




Em uma abordagem positivista, o objetivo de uma “sociologia” era conhecer e estabelecer as “leis imutáveis da vida social”; Daí que o sofista Émile Durkheim propõe um método sociológico- racionalista:


Estender à conduta humana o racionalismo científico é, realmente, nosso principal objetivo, fazendo ver que, se a analisarmos no passado, chegaremos a reduzi-la a relações de causa e efeito; em seguida, uma operação não menos racional a poderá transformar em regras de ação para o futuro. Aquilo que foi chamado de nosso positivismo, não é senão conseqüência deste racionalismo (Durkheim, 1977, p.XVII).


Sob uma abordagem positivista, ou seja, abstendo-se de considerações críticas e analisando a vida social objetivamente, Durkheim propõe uma “sociologia” construída nos moldes positivistas das ciências físicas e biológicas, separada da economia e da política:



Nossa regra não implica, pois, nenhuma concepção metafísica, nenhuma especulação a respeito do que há no mais profundo do ser. O que reclama do sociólogo é que se coloque num estado de espírito semelhante ao dos físicos, químicos, fisiologistas, quando se aventuram numa região ainda não inexplorada de seu domínio científico. É necessário que, ao penetrar no mundo social, tenha ele consciência de que penetra no desconhecido; é necessário que se sinta em presença de fatos cujas leis são tão desconhecidas quanto o eram as da existência antes da constituição da biologia; é preciso que se mantenha pronto a fazer descobertas que hão de surpreendê-lo e desconcertá-lo (Durkheim, 1977, p.XXIII).


Calcado na teoria da evolução (Darwin e Spencer) a abordagem positivista consistiu-se na observação e análise da realidade, atraindo a crença na possibilidade de se analisar os fenômenos sociais com objetividade. Durkheim racionaliza os fatos sociais tratando-os como “coisas”-objeto de conhecimento:


Os fatos propriamente ditos, porém, constituem para nós, necessariamente, algo de desconhecido, no momento em que empreendemos delinear-lhes a ciência; são coisas ignoradas, pois as representações que podem ser formuladas no decorrer da vida, tendo sido efetuadas sem método e sem crítica, estão destituídas de valor científico e devem ser afastadas. (Durkheim, 1977, p.XXI).


A sociologia trataria de conhecer as “coisas ignoradas”- os fatos sociais, agora com método e passível de crítica. Mas o que é Fato Social para Durkheim?


Consistem em maneiras de agir, de pensar e de sentir exteriores ao indivíduo, dotadas de um poder de coerção em virtude do qual se lhe impõe [...] Esta é a qualificação que lhe convém; pois é claro que, não tendo por substrato o indivíduo, não podem possuir outro que não seja a sociedade. (Durkheim, 1997, p.3).


Utilizando do método positivo, apoiado na observação, indução e experimentação, Durkheim tenta formular proposições constantes entre os fenômenos, os chamados “fatos sociais”, a fim de compreender a maneira fixa ou não do comportamento dos indivíduos submetidos à coerção social. A idéia é desenvolver uma “ciência” voltada para a organização “positiva” da sociedade, ou seja, para o controle social.


A consciência pública, pela vigilância que exerce sobre a conduta dos cidadãos e pelas penas especiais que têm a seu dispor, reprime todo o ato que a ofende (Durkheim,1977,p.2).


Estamos, pois diante (Durkheim, 1977) de maneiras de agir, pensar e sentir que apresentam a propriedade marcante de existir fora das consciências individuais.



Esta definição do fato social pode, além do mais, ser confirmada por meio de uma experiência característica: basta, para tal, que se observe a maneira pela qual são educadas as crianças. Toda a educação consiste em num esforço contínuo para impor às crianças maneiras de ver, de sentir e de agir às quais elas não chegariam espontaneamente, - observação que salta aos olhos todas as vezes que os fatos são encarados tais quais são e tais quais sempre foram. Desde os primeiros nãos de vida, são as crianças forçadas a comer, beber, dormir em horas regulares; são constrangidas a terem hábitos higiênicos, a serem calmas e obedientes; mais tarde, obrigamo-las a aprender a pensar nos demais, a respeitar usos e conveniências, forçamo-las ao trabalho, etc; etc.[...] Ora, estes últimos se tornam particularmente instrutivos quando lembramos que a educação tem justamente por objetivo formar o ser social; pode-se então perceber, como que num resumo, de que maneira este ser se constitui através da história. A pressão de todos os instantes que sofre a criança é a própria pressão do meio social tendendo a moldá-la à sua imagem, pressão de que tanto os pais quanto os mestres não são senão representantes e intermediários (Durkheim, 1977, p.5).



O homem possui em si dois seres: o individual e o social. Mas é o ser social (Durkheim, 1977) constrangido pela coletividade, que constrói a natureza humana. Desprovido desta “humanidade” o homem volta ao seu estado primitivo. A consciência individual permite ao homem uma dose de liberdade para agir segundo sua vontade, mas essa liberdade é cerceada e constrangida pela consciência social que dita o que deve ser feito ou não. A consciência individual é dada pela força coercitiva da consciência coletiva.



Assim, os indivíduos compartilham regras, normas e valores comuns que possibilitam a vida coletiva. Nessa visão, a sociedade se impõe aos indivíduos de maneira forte e abrangente. Fatos sociais cristalizados e construídos pelas representações coletivas formam e moldam nossas maneiras de ser. As maneiras de vestir, a forma das nossas casas, a linguagem falada e escrita, dentre muitas outras representações, são realidades exteriores à nossa vontade e que possuem ascendência sobre nós, ditando normas e costumes para nossas vidas.



A educação é um fato social e, portanto, se constitui como realidade externa ao indivíduo e que é a ele imposta socialmente. A educação é a ação exercida pelas gerações mais velhas sobre as gerações mais jovens desenvolvendo nas últimas, estados físicos, intelectuais e principalmente morais. A educação tem o papel primordial de educar moralmente os jovens para que possam viver na sociedade e atender às suas necessidades históricas e temporais.








Bibliografia

Durkheim, Émile. As regras do método sociológico. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1977.