segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Calendário dos encontros do Grupo de Estudo Epistemologia e Educação

Grupo de Estudo Epistemologia e Educação


Coordenador: Reginaldo Leandro Plácido

Calendário dos encontros:

Data Tema Bibliografia Responsável pela discussão

28\08 Comênio COMENIO, João Amós. Didactica magna. 3 ed. Porto: Fundação Calouste Gulbengian, 1985 – Introdução Saudação aos Leitores.
- Reginaldo Leandro Plácido

11\09 Comênio COMENIO, João Amós. Didactica magna. 3 ed. Porto: Fundação Calouste Gulbengian, 1985 – cap. X-XIX
- Diego e Mariana

25\09 Jorge Nagle NAGLE, Jorge. A educação na primeira república. Capítulo VII (PP. 259-292) in FAUSTO, Boris (org) O Brasil republicano: sociedade e instituição. Rio de Janeiro: Difel, 1977.
- Marcia e Daiana

09\10 Anísio Teixeira TEIXEIRA, Anísio. Discurso de posse do professor Anísio Teixeira no INEP. REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS. INEP\Rio de janeiro. Vol XVII, abril-junho, número 46, 1952
______. Autonomia para a educação na Bahia. REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS. INEP\Rio de janeiro. Vol XI, julho-agosto, número 49, 1947.
- Helena e Maria Filha

23\10 Anísio Teixeira TEIXEIRA, Anísio. A educação escolar no Brasil. In PEREIRA, Luiz; FORACCHI, Marialice (orgs). Educação e sociedade: leituras de sociologia da educação. São Paulo: CEN, 1979.
- Renata e Vanessa

06\11 Bourdieu ORTIZ, Renato (org) Pierre Bourdieu. São Paulo: Ática, 1994
- Renata e Marcia

20\11 Bourdieu ORTIZ, Renato (org) Pierre Bourdieu. São Paulo: Ática, 1994
- Mariana, Diego e Ana Maria

04\12 Saviani SAVIANI, Demerval. Pedagogia histórico crítica: primeiras aproximações. Campinas: Autores Associados, 2003.
- Maria Filha, Ludmila e Reginaldo

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Segue para conhecimento de todos um pouco sobre parte da obra (capítulos X ao XIX) da Didactica Magna de Jan Amos Komenský ou apenas Comênios. As idéias encontradas no texto nada mais são que a nossa revisão de idéias existentes e pertencentes ao escritor.

Didática Magna: As verdades que nunca morrem




A contemporaneidade presente na secular Didática Magna de João Amós Comênios é impressionante. A breve análise de parte de sua obra nos apresenta concepções de um escritor que vivenciou um período bastante diferente do atual. A primeira frase colocada no décimo capítulo de seu livro nos traz a idéia que se tornara a marca do escritor: O ensino de tudo destinado a todos. Comênio se preocupa em deixar claro o que para ele significa o ensino de tudo:



“Pretendemos apenas que se ensine a todos a conhecer os fundamentos, as razões e os objetivos de todas as coisas principais, das que existem na natureza como das que fabricam, pois somos colocados no mundo, não somente para que façamos de espectadores, mas também de atores.” (Comênios, 2001:135)



Espelhado em costumes religiosos, um homem de completos ensinamentos seria para ele, aquele que tudo aprendeu em sua formação incluindo conceitos de formação moral e religiosa, para Comênios aquele que aproveita a sabedoria adquirida das Ciências, sabe utilizar a prudência na escolha de suas ações e possui amor e respeito às coisas religiosas, sempre prezando pela união desses três atributos, indissociáveis para a formação humana, tivera uma verdadeira educação.



Fica então de incumbência das escolas o trabalho de formação de um homem completo e que essa educação seja direcionada a todos. No momento em que as escolas não formam homens que sejam tão sábios quanto prudentes e piedosos, fogem a sua tarefa, e ainda, se não há escolas por toda parte ou onde exista se observa uma distinção para o seu acesso, tem-se uma educação direcionada para poucos e não para todos. Vemos então que a discussões atuais as quais abordam temas como qual seria o verdadeiro papel da escola e de quem é o dever da educação cidadã, já vem sendo discutidos a mais tempo que muitos de nós imaginávamos.



Ora, se os centros destinados a educação não cumprem com os ideais que esperamos, não suprem as expectativas que criamos, temos que nos arriscar no lançamento de propostas que mudem essa realidade, que levem as escolas a formarem pessoas de acordo com as concepções de educação que acreditamos serem válidas, repito, proposições de reformas é um risco que corremos, pois o que é novo assusta por ser, muitas vezes, desconhecido a princípio, “De tal modo é costume tomar as coisas novas e inusitadas por coisas miraculosas e incríveis!” (Comênios, 2001:157). Propõe-se que os mestres não utilizem métodos e metodologias maçantes, que os estudos tenham um período ideal destinado a ele, que a formação pessoal se de antes da idade adulta, para isso, que se apliquem mudanças: Na didática e seus recursos, no tempo de duração das aulas, no período de formação do indivíduo, que as diferenças dos estudantes, como as inteligências, sejam levadas em conta durante o processo de aprendizagem, que sejam feitas alterações em tudo aquilo nas escolas que impeçam ou que mascarem a vocação natural do homem em aprender: “Todo o ser tem possibilidade de fazer espontaneamente aquelas coisas para que foi destinado; ajudado, ainda que pouquíssimo, fá-las.” (Comênios, 2001:160)



As reformas propostas, para que se desenvolvam de maneira a alcançarem seus verdadeiros objetivos não tendo um desfecho sem sucesso, possuem um pré requisito, assim como tudo que observamos na natureza e no funcionamento da arte criada pelo homem, a qual tem seu momento de inspiração na própria natureza, sempre é necessário que haja ordem. Sem ela não existe alvitre tão sólido que consiga seguir sem que vacile e perca seu rumo, “Deste modo se torna evidente que tudo depende apenas da ordem” (Comênios, 2001:180). Há algum patriota brasileiro que discorde do escritor quando seu país prega que para que exista progresso, é necessário antes de tudo que se haja ordem?



Mas de onde podemos retirar exemplo de tal ordem, a quem devemos seguir para alcançarmos tal harmonia das coisas? Comênios nos convida, mais uma vez, a encontramos na natureza os exemplos de disciplina, é nela que conseguiremos visualizar a ordem que devemos seguir, para que não resultemos em erros. Ao fazer tal afirmação o autor, em nenhum momento, afirma que o caminho da ordem é simples ou fácil de ser seguido e é então que nos apresenta os obstáculos que podemos encontrar: A efemeridade da vida, a infinidade de coisas que devemos ou queremos aprender, o tempo que nos falta ou a administração desse, nossa aptidão natural e nossa imensidade de observações vagas que podem levar a trabalhos incertos.



Como não afirmar que Comênios deixa aflorar todo seu lado poético em sua Didactica Magna, se ao iniciar seu décimo quinto capítulo, exclama a seguinte frase: “Ao homem é concedida vida suficientemente longa. [...] Mas é por nós abreviada.” (Comênios, 2001:192). O escritor quer nos dizer que somos senhores de nosso tempo e que na verdade a vida não é breve; apenas precisamos fazer valer cada minuto sabendo conduzi-la da melhor maneira. Citando entre outros exemplos, a vida de Nosso Senhor Jesus Cristo como sendo uma vida breve, porém calcada por sua sublime obra de Redenção, o autor refere-se ao corpo como um tabernáculo, destacando a importância de não dicotomizarmos corpo, mente e alma visto que são elementos intrinsecamente ligados, e afirma que “[...] Se o corpo se arruína, a alma é obrigada a emigrar imediatamente deste mundo [...]” (Comênios, 2001:196). Além disso, um corpo doente abrigará uma mente também doente. Por isso, um dos destaques do capítulo, é a comparação feita entre o homem e um arbusto, onde é ressaltada a importância de uma alimentação moderada, da atividade física e do repouso como práticas fundamentais à conservação da saúde e da vida. Segundo Comênios, uma organização escolar deve equilibrar trabalho e repouso, férias e recreios.

Como um agricultor, aqueles que instruem e educam a juventude, também tem a obrigação de semear em seus educandos boas sementes. Mas, estas sementes, também precisam ser semeadas ao tempo correto. Por isso, o autor afirma que a escola peca ao não aproveitar o momento favorável para exercitar as inteligências. Inteligências que são melhores desenvolvidas na “puerícia”, que corresponde ao período da infância. Convém ressaltar também que Comênios determina o período da manhã como sendo o horário mais favorável aos estudos, por equiparar-se à primavera.

A organização tanto dos materiais didáticos quanto dos conteúdos, também é um dos alertas de Comênios, afirmando que no processo de ensino, os exemplos devem preceder as regras. Também esclarece a importância da existência de conexão entre os conteúdos aprendidos e de o aluno ocupar-se de uma matéria de cada uma a seu tempo. Assim, um conteúdo não deve ser iniciado sem que o anterior esteja finalizado, “[...] pois quem pensa em muitas coisas ao mesmo tempo arrisca-se a não compreender seriamente nenhuma delas [...]” (Comênios, 2001:218). A inteligência formada é o primeiro passo para a compreensão das coisas. É preciso cultivá-la para que o conhecimento aflore, aconteça. Também as futilidades atrapalham o processo de aprendizagem, assim como a manutenção das escolas em locais barulhentos, o que causa dispersão e desinteresse por parte dos alunos.

Escolher adequadamente tanto as companhias dos educandos, quanto os livros a serem adotados pela instituição é fundamental para que estes se constituam verdadeiros “inspiradores de sabedoria”.

Ao classificar dez fundamentos para ensinar e aprender com facilidade, Comênios afirma que uma mente virgem, aquela que ainda não está ocupada com outras coisas, está no momento ideal para as futuras aprendizagens e que não se deve destinar vários professores a uma mesma classe, visto que cada professor mantém um método de ensino, sendo assim há o risco de confusões, embaraços nos momentos de construção dos conhecimentos. A “sede” de aprender é essencial. Um aluno que tem a vontade, o gosto por conhecimento, faz com que esse processo seja mais simples e mais efetivo. Ensinar, não é tarefa apenas da escola, os pais também são peças – chave nesse processo e devem incentivar as boas relações afetivas entre educadores e alunos. O desenvolvimento espontâneo e natural do conhecimento precisa existir para tudo seja realizado com prazer, “unindo-se o útil ao agradável”.

Não oprimir os alunos com conteúdos exagerados, permite que o professor respeite o educando e seus limites, para que cada vez mais possa aproximá-lo do processo de ensino e aprendizagem, e não afastá-lo, muitas vezes criando traumas. Seguindo suas analogias entre acontecimentos da natureza e as aprendizagens na infância, Comênios demonstra principalmente, sua preocupação em fazer com que o professor perceba a beleza presente no ato de ensinar, criando situações facilitadoras para a aprendizagem de seu aluno, aliando à sua prática, motivação, respeito e humildade.

Uma instrução sólida é muitas vezes impedida por descuidos com relação à escolha dos conteúdos e também sobre o exagero de disciplinas que acabam por sobrecarregar as mentes dos alunos, fazendo com que a memória saturada por conteúdos muitas vezes inúteis não armazene o que é suficientemente importante. Despertar o amor pelo estudo, enraizando os conhecimentos através dos métodos sintéticos e buscando a ciência não apenas nos livros, mas em todas as coisas. Os conteúdos ensinados têm suas razões e essas razões devem ser bem esclarecidas aos alunos, assim como sobre a utilidade desses conteúdos visto que “[...] nada deve ser aprendido em vão. (Comênios, 2001:281). O conhecimento adquirido deve ser compartilhado com outros, para que se perpetue.

Por fim, os ensinamentos não necessitam ser demasiadamente longos e demorados para serem considerados válidos. Os caminhos a serem percorridos necessitam ser feitos não por atalhos, mas sobretudo sem rodeios para que se alcance os objetivos com rapidez. Ao fazer referência ao sol, como sendo responsável por diversas tarefas na Terra e assim realizando-as de maneira simultânea e contínua, Comênios defende a idéia de um único professor por classe, além de um método de ensino que permita a união dos conteúdos que acabam por desencadear-se de maneira constante, atrelados entre si e sem interrupções. Acerca de todas as suas sugestões, Comênios fundamenta seus ensinamentos, explicando claramente as objeções que eventualmente podemos fazer aos mesmos, ressaltando a relevância destas práticas para que se economize “tempo e fadiga” tanto ao ensinar quanto ao aprender.

A leitura de autores como Comênios nos leva a enxergamos o nosso presente como um resultado de construções históricas, as quais optamos muitas vezes por abandoná-las, mas que ao atravessarem gerações refletem ainda hoje as suas verdades. Nunca é demais ressaltar para vocês leitores que se trata de um texto editado pela primeira vez em 1657, que entre prenúncios ou coincidências ainda se faz presente em nossa educação.

(Diego Cardoso e Mariana)

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Comênio e sua Didática Magna

“A natureza dá as sementes da ciência, da honestidade, da religião,
mas não dá a ciência, a virtude, a religião; estas são adquiridas
apenas com a prece, com o estudo, com o
esforço pessoal”. (Comênios)
“A educação é necessária para todos”. (Comênios)

Rebuscando a história da educação vamos encontrar uma grande constelação de figuras de comprovada importância, nomes que engrandeceram a história da educação. Neste trabalho, resultado dos apontamentos dos seminários de Epistemologia e Educação, elegemos a figura do educador morávio João Amós Comênios e sua obra Didática Magna, por a considerarmos um grande marco para o avanço da educação em sua época, com reflexos até nos dias de hoje. Aqui, relembrar Comênios não significa necessariamente impor uma pretensão de recuperar suas idéias e reaplicá-las como se fossem uma panacéia capaz de exterminar os atuais males da educação. Na verdade, a intenção mesmo é apenas destacar alguns pontos relevantes de sua obra Didatica Magna, extraídos da leitura da introdução e capítulo X a XIX, bem como dos seminários de Epistemologia e Educação. Ademais, como salienta Gasparin (1994:13):

O retorno a Comenius se tornou uma urgência a partir do momento em que constatamos a crise em que se encontra a didática atual. A preocupação com o imediato e o prático, no trabalho docente cotidiano, tem conduzido com freqüência a um profundo desconhecimento dos clássicos em educação que, em seu momento histórico, foram capazes de apreender as necessidades e os desafios que as práticas social e educacional determinavam.

A exigüidade que se propõe o próprio texto limita reflexões profundas e pormenorizadas da obra de Comênios. Mas isso não significa que se olvide de sua importância, antes destaca a necessidade primeva de retorno a fonte original, no caso a Didática Magna, como aio para os apontamentos sugeridos. Destaca-se ainda que, embora já tenham decorrido mais de quatro séculos da morte de Comênios, sua obra é viva e atual e seu texto de fluência clara e impactante. Por fim, como assevera Luzuriaga (apud Covello, 1991:9):

Comenius foi o fundador da didática e, em parte, da pedagogia moderna. Mas foi, ainda, um pensador, um místico, um reformador social, personalidade extraordinária, em suma. Seu nome figura ao nível dos de Rousseau, Pestalozzi e Froebel, isto é, dos maiores da educação e da pedagogia.

O educador João Amós Comenius ou Jan Amos Komenský, seu nome original, nasceu em 28 de março de 1592, na cidade de Uherský Brod (ou Nivnitz), na Moravia, região da Europa Central pertencente ao Reino da Boêmia (antiga Tcheco-Eslováquia). Seus pais Martinho e Ana, também eslavos, eram cristãos adeptos dos Irmãos Morávios . A influência da extrema religiosidade Morávia certamente influenciou o modo de ser e crenças de Comênios que irão marcar sua escrita repleta de citações bíblicas e comparações com a natureza. Como observa Covello (1991:15):

Os salmos, os evangelhos e os cânticos religiosos de Huss embalaram a infância do pequeno Jan Amos e lhe incutiram a convicção de que a única coisa necessária é buscar o reino de Deus, pois a vida terrena é apenas passagem para a eternidade... Fora de Deus, fonte de luz e vida, não há senão trevas...

Segundo se depreende das informações contidas na introdução da Didatica Magna Comênios teve infância difícil, pois aos 12 anos, seus pais e suas duas irmãs morreram, tendo ele ficado só e ao abandono.

A educação de Comênios teve princípio na escola dos Irmãos Morávios onde aprendeu rudimentos de leitura, escrita, cálculo e catecismo, mas o suficiente para despertar nele o desejo de saber e a preparação para torná-lo no grande erudito do futuro. Quando Comênios concluiu os estudos secundários fez opção pela carreira eclesiástica. Estudou teologia na Faculdade Calvinista de Herborn, na Alemanha. Aí adquire uma boa formação cultural, fica amigo dos professores, destaca-se como aluno e, ainda como estudante, apresenta duas teses de doutorado. Segundo assinala Gasparin (1994) durante esse período de estudos na Alemanha, Comênios ampliou e fundamentou suas convicções religiosas, além de haver adquirido uma vasta cultura enciclopédica e desenvolvido o espírito de reformador que o acompanharia durante toda sua vida.

Após uma breve estada em Praga, Comênios chega a Prerov, maior centro da comunidade morávia, e aí se estabelece no magistério, contagiado pelas idéias pedagógicas aprendidas na Universidade. Decorridos dois anos na profissão de professor é ordenado pastor dos Irmãos Morávios (1616), estabelecendo-se na cidade de Fulnek, onde se casa com Madalena Vizovska e com quem tem seus dois primeiros filhos.

Na época da Guerra dos Trinta Anos , os exércitos espanhóis invadem e incendeiam a cidade de Fulnek e nisso Comênios perde todos os seus livros e manuscritos. E como se não bastasse, perde também sua mulher e seus dois filhos vitimados pela epidemia (peste). Comênios recomeça tudo e produz uma série de escritos de cunho religioso a fim de recuperar o ânimo da irmandade.

Estabelecido em Leszno, Comênios casa novamente. Reanimado, retorna às funções de professor e pastor. Sua fama chega à Inglaterra, onde um grupo de intelectuais liderados por Samuel Hartlib para ir a Londres, sendo recebido com todas as honras. A fama cresce e ultrapassa as fronteiras britânicas e ele passa por outros países, como a Suécia, e depois volta à Polônia, fixando-se novamente em Leszno. Na Suécia um fato bastante significativo em sua vida acontece: foi o proveitoso encontro com Descartes.

O destino parecia conspirar contra Comênios. Um incêndio, tal como acontecera em Fulnek, destruiu sua casa e, coincidência, mais uma vez perde sua valiosa biblioteca. Em 1648, em Leszno, sua mulher Dorotéia morre, deixando cinco filhos, dois crescidos e três pequenos. Completamente pobre e doente, e mais do que isso, vítima da incompreensão da comunidade, busca asilo em diversas cidades alemãs, mas terminou optando pela Holanda, onde passará os derradeiros anos de sua vida.

Comênios ainda casou em terceira núpcias, em 1649. Na Holanda, instalado em Amsterdam, mesmo combalido reúne forças para prosseguir seu trabalho de educador e reformador social. E ele cresce de novo. Segundo Covello (1991) conscientes do valor de Comênios as autoridades holandesas propõem ao hóspede a publicação de todas as suas obras pedagógicas, muitas das quais já bastante conhecidas no país. O grande sábio morávio vive feliz na Holanda, experimentando uma nova e reconfortante vida. Não enfrenta dificuldades financeiras, tem o reconhecimento do público e das autoridades, e na última fase de sua vida dedica-se a ser um apologista da paz, propugnando pela fraternidade entre os povos e as igrejas.

Comênios morre em 15 de novembro de 1670 e é sepultado numa pequena igreja em Naarden, onde foi construído seu mausoléu. Conforme Covello (1991), em 1956 a Conferência Internacional da UNESCO realizada em Nova Delhi delibera a publicação das obras de Comenius e o aponta como um dos primeiros propagadores das idéias que inspiraram a UNESCO por ocasião de sua fundação.

A Didactica Magna com certeza é a grande obra de Comênios (das mais de 500 0bras publicadas por ele); foi editada pela primeira vez na Opera Didactica Omnia, em Amsterdã, 1657. Era a tradução latina da Didactica tcheca. Comenius decidiu pela versão latina e em razão do papel mais amplo que ela assumiria. Como mesmo assevera na Carta aos Leitores: “Escrito inicialmente em vernáculo, para uso do meu povo, sai agora, a conselho de alguns homens eminentes, vertido em latim, para que, se possível aproveite a todos.” (Comênios, 2001: 20).

Comênios parte do princípio de que a educação era o meio mais eficaz para corrigir a corrupção humana (Comênios, 2001:44). Tendo as Escrituras e a Natureza como inspiração ele parte para o labor da escrito de seu tratado. Ele acreditava na educação destinada a todos e afirma que os retos princípios da Didática interessavam “Aos Pais”, “Aos Preceptores”, “Aos Estudantes”, “Às Escolas”, “Aos Estados”, “À Igreja” e “Finalmente é de interesse do CÉU”. (Comênios, 2001:47-8)

É preciso que todas as coisas sejam ensinadas, a partir dos seus fundamentos, de modo breve e eficaz, de tal maneira que a inteligência se possa abrir como que com uma chave, e as coisas se lhe possam manifestar espontaneamente. Também é preciso se esforçar para oferecer sempre aos alunos coisas atraentes, pois assim ficarão mais dispostos a estudar.

De tudo que se transcreveu neste texto sobre a Didática Magna de Comênios fica claro que quando o pedagogo tcheco, no século XVII, falou de educar tudo a todos conseguiu se antevir ao seu tempo. E mesmo que não se deseje presentificá-lo é necessário reconhecer sua contemporaneidade.