quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Comênio e sua Didática Magna

“A natureza dá as sementes da ciência, da honestidade, da religião,
mas não dá a ciência, a virtude, a religião; estas são adquiridas
apenas com a prece, com o estudo, com o
esforço pessoal”. (Comênios)
“A educação é necessária para todos”. (Comênios)

Rebuscando a história da educação vamos encontrar uma grande constelação de figuras de comprovada importância, nomes que engrandeceram a história da educação. Neste trabalho, resultado dos apontamentos dos seminários de Epistemologia e Educação, elegemos a figura do educador morávio João Amós Comênios e sua obra Didática Magna, por a considerarmos um grande marco para o avanço da educação em sua época, com reflexos até nos dias de hoje. Aqui, relembrar Comênios não significa necessariamente impor uma pretensão de recuperar suas idéias e reaplicá-las como se fossem uma panacéia capaz de exterminar os atuais males da educação. Na verdade, a intenção mesmo é apenas destacar alguns pontos relevantes de sua obra Didatica Magna, extraídos da leitura da introdução e capítulo X a XIX, bem como dos seminários de Epistemologia e Educação. Ademais, como salienta Gasparin (1994:13):

O retorno a Comenius se tornou uma urgência a partir do momento em que constatamos a crise em que se encontra a didática atual. A preocupação com o imediato e o prático, no trabalho docente cotidiano, tem conduzido com freqüência a um profundo desconhecimento dos clássicos em educação que, em seu momento histórico, foram capazes de apreender as necessidades e os desafios que as práticas social e educacional determinavam.

A exigüidade que se propõe o próprio texto limita reflexões profundas e pormenorizadas da obra de Comênios. Mas isso não significa que se olvide de sua importância, antes destaca a necessidade primeva de retorno a fonte original, no caso a Didática Magna, como aio para os apontamentos sugeridos. Destaca-se ainda que, embora já tenham decorrido mais de quatro séculos da morte de Comênios, sua obra é viva e atual e seu texto de fluência clara e impactante. Por fim, como assevera Luzuriaga (apud Covello, 1991:9):

Comenius foi o fundador da didática e, em parte, da pedagogia moderna. Mas foi, ainda, um pensador, um místico, um reformador social, personalidade extraordinária, em suma. Seu nome figura ao nível dos de Rousseau, Pestalozzi e Froebel, isto é, dos maiores da educação e da pedagogia.

O educador João Amós Comenius ou Jan Amos Komenský, seu nome original, nasceu em 28 de março de 1592, na cidade de Uherský Brod (ou Nivnitz), na Moravia, região da Europa Central pertencente ao Reino da Boêmia (antiga Tcheco-Eslováquia). Seus pais Martinho e Ana, também eslavos, eram cristãos adeptos dos Irmãos Morávios . A influência da extrema religiosidade Morávia certamente influenciou o modo de ser e crenças de Comênios que irão marcar sua escrita repleta de citações bíblicas e comparações com a natureza. Como observa Covello (1991:15):

Os salmos, os evangelhos e os cânticos religiosos de Huss embalaram a infância do pequeno Jan Amos e lhe incutiram a convicção de que a única coisa necessária é buscar o reino de Deus, pois a vida terrena é apenas passagem para a eternidade... Fora de Deus, fonte de luz e vida, não há senão trevas...

Segundo se depreende das informações contidas na introdução da Didatica Magna Comênios teve infância difícil, pois aos 12 anos, seus pais e suas duas irmãs morreram, tendo ele ficado só e ao abandono.

A educação de Comênios teve princípio na escola dos Irmãos Morávios onde aprendeu rudimentos de leitura, escrita, cálculo e catecismo, mas o suficiente para despertar nele o desejo de saber e a preparação para torná-lo no grande erudito do futuro. Quando Comênios concluiu os estudos secundários fez opção pela carreira eclesiástica. Estudou teologia na Faculdade Calvinista de Herborn, na Alemanha. Aí adquire uma boa formação cultural, fica amigo dos professores, destaca-se como aluno e, ainda como estudante, apresenta duas teses de doutorado. Segundo assinala Gasparin (1994) durante esse período de estudos na Alemanha, Comênios ampliou e fundamentou suas convicções religiosas, além de haver adquirido uma vasta cultura enciclopédica e desenvolvido o espírito de reformador que o acompanharia durante toda sua vida.

Após uma breve estada em Praga, Comênios chega a Prerov, maior centro da comunidade morávia, e aí se estabelece no magistério, contagiado pelas idéias pedagógicas aprendidas na Universidade. Decorridos dois anos na profissão de professor é ordenado pastor dos Irmãos Morávios (1616), estabelecendo-se na cidade de Fulnek, onde se casa com Madalena Vizovska e com quem tem seus dois primeiros filhos.

Na época da Guerra dos Trinta Anos , os exércitos espanhóis invadem e incendeiam a cidade de Fulnek e nisso Comênios perde todos os seus livros e manuscritos. E como se não bastasse, perde também sua mulher e seus dois filhos vitimados pela epidemia (peste). Comênios recomeça tudo e produz uma série de escritos de cunho religioso a fim de recuperar o ânimo da irmandade.

Estabelecido em Leszno, Comênios casa novamente. Reanimado, retorna às funções de professor e pastor. Sua fama chega à Inglaterra, onde um grupo de intelectuais liderados por Samuel Hartlib para ir a Londres, sendo recebido com todas as honras. A fama cresce e ultrapassa as fronteiras britânicas e ele passa por outros países, como a Suécia, e depois volta à Polônia, fixando-se novamente em Leszno. Na Suécia um fato bastante significativo em sua vida acontece: foi o proveitoso encontro com Descartes.

O destino parecia conspirar contra Comênios. Um incêndio, tal como acontecera em Fulnek, destruiu sua casa e, coincidência, mais uma vez perde sua valiosa biblioteca. Em 1648, em Leszno, sua mulher Dorotéia morre, deixando cinco filhos, dois crescidos e três pequenos. Completamente pobre e doente, e mais do que isso, vítima da incompreensão da comunidade, busca asilo em diversas cidades alemãs, mas terminou optando pela Holanda, onde passará os derradeiros anos de sua vida.

Comênios ainda casou em terceira núpcias, em 1649. Na Holanda, instalado em Amsterdam, mesmo combalido reúne forças para prosseguir seu trabalho de educador e reformador social. E ele cresce de novo. Segundo Covello (1991) conscientes do valor de Comênios as autoridades holandesas propõem ao hóspede a publicação de todas as suas obras pedagógicas, muitas das quais já bastante conhecidas no país. O grande sábio morávio vive feliz na Holanda, experimentando uma nova e reconfortante vida. Não enfrenta dificuldades financeiras, tem o reconhecimento do público e das autoridades, e na última fase de sua vida dedica-se a ser um apologista da paz, propugnando pela fraternidade entre os povos e as igrejas.

Comênios morre em 15 de novembro de 1670 e é sepultado numa pequena igreja em Naarden, onde foi construído seu mausoléu. Conforme Covello (1991), em 1956 a Conferência Internacional da UNESCO realizada em Nova Delhi delibera a publicação das obras de Comenius e o aponta como um dos primeiros propagadores das idéias que inspiraram a UNESCO por ocasião de sua fundação.

A Didactica Magna com certeza é a grande obra de Comênios (das mais de 500 0bras publicadas por ele); foi editada pela primeira vez na Opera Didactica Omnia, em Amsterdã, 1657. Era a tradução latina da Didactica tcheca. Comenius decidiu pela versão latina e em razão do papel mais amplo que ela assumiria. Como mesmo assevera na Carta aos Leitores: “Escrito inicialmente em vernáculo, para uso do meu povo, sai agora, a conselho de alguns homens eminentes, vertido em latim, para que, se possível aproveite a todos.” (Comênios, 2001: 20).

Comênios parte do princípio de que a educação era o meio mais eficaz para corrigir a corrupção humana (Comênios, 2001:44). Tendo as Escrituras e a Natureza como inspiração ele parte para o labor da escrito de seu tratado. Ele acreditava na educação destinada a todos e afirma que os retos princípios da Didática interessavam “Aos Pais”, “Aos Preceptores”, “Aos Estudantes”, “Às Escolas”, “Aos Estados”, “À Igreja” e “Finalmente é de interesse do CÉU”. (Comênios, 2001:47-8)

É preciso que todas as coisas sejam ensinadas, a partir dos seus fundamentos, de modo breve e eficaz, de tal maneira que a inteligência se possa abrir como que com uma chave, e as coisas se lhe possam manifestar espontaneamente. Também é preciso se esforçar para oferecer sempre aos alunos coisas atraentes, pois assim ficarão mais dispostos a estudar.

De tudo que se transcreveu neste texto sobre a Didática Magna de Comênios fica claro que quando o pedagogo tcheco, no século XVII, falou de educar tudo a todos conseguiu se antevir ao seu tempo. E mesmo que não se deseje presentificá-lo é necessário reconhecer sua contemporaneidade.

5 comentários:

Unknown disse...

Os fundamentos de Comenio, apesar de escritos há muitos anos atrás, são extremamente contemporâneos e, a Didática atual, carece de tais esclarecimentos. Se forem compreendidas e seguidas de fato, as direções apontadas por este autor farão modificações positivas no campo da educação. Acredito que “A Didactica Magna” seja uma leitura obrigatória para aqueles que desejam ingressar na carreira docente.

Mariana

Digo Bio disse...

As escrituras de Comênio revelam-se hodiernas não somente por tangerem pontos presentes na educação por nós vivenciada, mas também, por nos mostrar o quão influenciado é o processo educacional pelas variáveis de uma sociedade e pelas concepções de um indivíduo. Gostaria ainda de ressaltar a forma como encontrou na educação a saída dos problemas que pela vida foram impostos a ele.
" A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo " Nelson Mandela.

Unknown disse...

Comenius foi mais que um homem do seu tempo, foi um homem para além do seu tempo. Ao propor uma educação para todos, também se dirigiu aos governantes do seu tempo sobre a necessidade urgente de o Estado assumir compromissos com a educação de todas as pessoas. “Se uma cidade precisa de fortificações para se proteger, formação de quadros para os exércitos, de rios navegáveis para abastecer o seu comércio, muito mais necessário lhe é a educação dos cidadãos para viverem esta realidade” (p. 295). E, ainda mais, ele propôs algo que ainda não conseguimos realizar: um ensino vinculado ao cotidiano do aprendiz, propondo que se ensinasse a ler e a escrever "juntando as palavras e as coisas". (Paulo Freire certamente leu Comenius). É isso aí!

marcia disse...

É indiscutível que as coisas divinas servem de base para se progredir em todos os sentidos.Alem de contribuir para o equilíbrio emocional,auxilia na formação como ser humano.Ele acredita na união das forças dos pais e dos professores para a transmissão do conhecimento.Nos momentos de reflexão,observou-se que Comenius valoriza as coisas naturais,simples onde procura a solução para seus anseios.Para ele o conhecimento se constrói semeando,compreendendo as coisas do mundo,desde que haja uma reciprocidade.

Unknown disse...

Comentário sobre o texto da didática magna.
A arte de ensinar, e o discente aprender, esse processo de ensino aprendizagem.
E como uma grande mágica, como toda grande forma de encantar, tem as suas técnicas.
e o mais interessante, não define um período, uma idade um marco, qualquer um pode aprender em qualquer momento da vida, assim surge um gênio que nos ensina métodos, para realização desse processo, com maior eficácia e alcance dos objetivos, que é o outro aprender e entender o que e ensinados.
Só que para aprender, é necessário um pensamento de que filosofia de vida tem essas pessoas o quais são seus maiores anseios suas buscas, uma grande parte desse processo acontece na escola, é na escola se junta todos os tipos de cidadão pobre rico agricultor cientista, metalúrgico enfim e a escola deve servir para ensinar todo tipo de pessoas,
Mostrar que todos os tipos de conhecimentos são importante, a matemática , não e mais importante que o ensino de artes na escola todos devem ter o mesmo nível de importância.
Inteligência vontade e memória será esta a busca pela felicidade completa ?
Essa é a grande duvida a ser respondida. E o corpo do homem qual é a maior fonte de
Satisfação? E seria o principal objetivo de Deus na criação da humanidade,
Ensinar essa verdade é um grande desafio só ensina que tem o verdadeiro talento
E o papel da escola deve ser imparcial pensando que cada pessoa deva tira suas conclusões e ensinar a fazer os questionamentos e as desconstruções.