segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Segue para conhecimento de todos um pouco sobre parte da obra (capítulos X ao XIX) da Didactica Magna de Jan Amos Komenský ou apenas Comênios. As idéias encontradas no texto nada mais são que a nossa revisão de idéias existentes e pertencentes ao escritor.

Didática Magna: As verdades que nunca morrem




A contemporaneidade presente na secular Didática Magna de João Amós Comênios é impressionante. A breve análise de parte de sua obra nos apresenta concepções de um escritor que vivenciou um período bastante diferente do atual. A primeira frase colocada no décimo capítulo de seu livro nos traz a idéia que se tornara a marca do escritor: O ensino de tudo destinado a todos. Comênio se preocupa em deixar claro o que para ele significa o ensino de tudo:



“Pretendemos apenas que se ensine a todos a conhecer os fundamentos, as razões e os objetivos de todas as coisas principais, das que existem na natureza como das que fabricam, pois somos colocados no mundo, não somente para que façamos de espectadores, mas também de atores.” (Comênios, 2001:135)



Espelhado em costumes religiosos, um homem de completos ensinamentos seria para ele, aquele que tudo aprendeu em sua formação incluindo conceitos de formação moral e religiosa, para Comênios aquele que aproveita a sabedoria adquirida das Ciências, sabe utilizar a prudência na escolha de suas ações e possui amor e respeito às coisas religiosas, sempre prezando pela união desses três atributos, indissociáveis para a formação humana, tivera uma verdadeira educação.



Fica então de incumbência das escolas o trabalho de formação de um homem completo e que essa educação seja direcionada a todos. No momento em que as escolas não formam homens que sejam tão sábios quanto prudentes e piedosos, fogem a sua tarefa, e ainda, se não há escolas por toda parte ou onde exista se observa uma distinção para o seu acesso, tem-se uma educação direcionada para poucos e não para todos. Vemos então que a discussões atuais as quais abordam temas como qual seria o verdadeiro papel da escola e de quem é o dever da educação cidadã, já vem sendo discutidos a mais tempo que muitos de nós imaginávamos.



Ora, se os centros destinados a educação não cumprem com os ideais que esperamos, não suprem as expectativas que criamos, temos que nos arriscar no lançamento de propostas que mudem essa realidade, que levem as escolas a formarem pessoas de acordo com as concepções de educação que acreditamos serem válidas, repito, proposições de reformas é um risco que corremos, pois o que é novo assusta por ser, muitas vezes, desconhecido a princípio, “De tal modo é costume tomar as coisas novas e inusitadas por coisas miraculosas e incríveis!” (Comênios, 2001:157). Propõe-se que os mestres não utilizem métodos e metodologias maçantes, que os estudos tenham um período ideal destinado a ele, que a formação pessoal se de antes da idade adulta, para isso, que se apliquem mudanças: Na didática e seus recursos, no tempo de duração das aulas, no período de formação do indivíduo, que as diferenças dos estudantes, como as inteligências, sejam levadas em conta durante o processo de aprendizagem, que sejam feitas alterações em tudo aquilo nas escolas que impeçam ou que mascarem a vocação natural do homem em aprender: “Todo o ser tem possibilidade de fazer espontaneamente aquelas coisas para que foi destinado; ajudado, ainda que pouquíssimo, fá-las.” (Comênios, 2001:160)



As reformas propostas, para que se desenvolvam de maneira a alcançarem seus verdadeiros objetivos não tendo um desfecho sem sucesso, possuem um pré requisito, assim como tudo que observamos na natureza e no funcionamento da arte criada pelo homem, a qual tem seu momento de inspiração na própria natureza, sempre é necessário que haja ordem. Sem ela não existe alvitre tão sólido que consiga seguir sem que vacile e perca seu rumo, “Deste modo se torna evidente que tudo depende apenas da ordem” (Comênios, 2001:180). Há algum patriota brasileiro que discorde do escritor quando seu país prega que para que exista progresso, é necessário antes de tudo que se haja ordem?



Mas de onde podemos retirar exemplo de tal ordem, a quem devemos seguir para alcançarmos tal harmonia das coisas? Comênios nos convida, mais uma vez, a encontramos na natureza os exemplos de disciplina, é nela que conseguiremos visualizar a ordem que devemos seguir, para que não resultemos em erros. Ao fazer tal afirmação o autor, em nenhum momento, afirma que o caminho da ordem é simples ou fácil de ser seguido e é então que nos apresenta os obstáculos que podemos encontrar: A efemeridade da vida, a infinidade de coisas que devemos ou queremos aprender, o tempo que nos falta ou a administração desse, nossa aptidão natural e nossa imensidade de observações vagas que podem levar a trabalhos incertos.



Como não afirmar que Comênios deixa aflorar todo seu lado poético em sua Didactica Magna, se ao iniciar seu décimo quinto capítulo, exclama a seguinte frase: “Ao homem é concedida vida suficientemente longa. [...] Mas é por nós abreviada.” (Comênios, 2001:192). O escritor quer nos dizer que somos senhores de nosso tempo e que na verdade a vida não é breve; apenas precisamos fazer valer cada minuto sabendo conduzi-la da melhor maneira. Citando entre outros exemplos, a vida de Nosso Senhor Jesus Cristo como sendo uma vida breve, porém calcada por sua sublime obra de Redenção, o autor refere-se ao corpo como um tabernáculo, destacando a importância de não dicotomizarmos corpo, mente e alma visto que são elementos intrinsecamente ligados, e afirma que “[...] Se o corpo se arruína, a alma é obrigada a emigrar imediatamente deste mundo [...]” (Comênios, 2001:196). Além disso, um corpo doente abrigará uma mente também doente. Por isso, um dos destaques do capítulo, é a comparação feita entre o homem e um arbusto, onde é ressaltada a importância de uma alimentação moderada, da atividade física e do repouso como práticas fundamentais à conservação da saúde e da vida. Segundo Comênios, uma organização escolar deve equilibrar trabalho e repouso, férias e recreios.

Como um agricultor, aqueles que instruem e educam a juventude, também tem a obrigação de semear em seus educandos boas sementes. Mas, estas sementes, também precisam ser semeadas ao tempo correto. Por isso, o autor afirma que a escola peca ao não aproveitar o momento favorável para exercitar as inteligências. Inteligências que são melhores desenvolvidas na “puerícia”, que corresponde ao período da infância. Convém ressaltar também que Comênios determina o período da manhã como sendo o horário mais favorável aos estudos, por equiparar-se à primavera.

A organização tanto dos materiais didáticos quanto dos conteúdos, também é um dos alertas de Comênios, afirmando que no processo de ensino, os exemplos devem preceder as regras. Também esclarece a importância da existência de conexão entre os conteúdos aprendidos e de o aluno ocupar-se de uma matéria de cada uma a seu tempo. Assim, um conteúdo não deve ser iniciado sem que o anterior esteja finalizado, “[...] pois quem pensa em muitas coisas ao mesmo tempo arrisca-se a não compreender seriamente nenhuma delas [...]” (Comênios, 2001:218). A inteligência formada é o primeiro passo para a compreensão das coisas. É preciso cultivá-la para que o conhecimento aflore, aconteça. Também as futilidades atrapalham o processo de aprendizagem, assim como a manutenção das escolas em locais barulhentos, o que causa dispersão e desinteresse por parte dos alunos.

Escolher adequadamente tanto as companhias dos educandos, quanto os livros a serem adotados pela instituição é fundamental para que estes se constituam verdadeiros “inspiradores de sabedoria”.

Ao classificar dez fundamentos para ensinar e aprender com facilidade, Comênios afirma que uma mente virgem, aquela que ainda não está ocupada com outras coisas, está no momento ideal para as futuras aprendizagens e que não se deve destinar vários professores a uma mesma classe, visto que cada professor mantém um método de ensino, sendo assim há o risco de confusões, embaraços nos momentos de construção dos conhecimentos. A “sede” de aprender é essencial. Um aluno que tem a vontade, o gosto por conhecimento, faz com que esse processo seja mais simples e mais efetivo. Ensinar, não é tarefa apenas da escola, os pais também são peças – chave nesse processo e devem incentivar as boas relações afetivas entre educadores e alunos. O desenvolvimento espontâneo e natural do conhecimento precisa existir para tudo seja realizado com prazer, “unindo-se o útil ao agradável”.

Não oprimir os alunos com conteúdos exagerados, permite que o professor respeite o educando e seus limites, para que cada vez mais possa aproximá-lo do processo de ensino e aprendizagem, e não afastá-lo, muitas vezes criando traumas. Seguindo suas analogias entre acontecimentos da natureza e as aprendizagens na infância, Comênios demonstra principalmente, sua preocupação em fazer com que o professor perceba a beleza presente no ato de ensinar, criando situações facilitadoras para a aprendizagem de seu aluno, aliando à sua prática, motivação, respeito e humildade.

Uma instrução sólida é muitas vezes impedida por descuidos com relação à escolha dos conteúdos e também sobre o exagero de disciplinas que acabam por sobrecarregar as mentes dos alunos, fazendo com que a memória saturada por conteúdos muitas vezes inúteis não armazene o que é suficientemente importante. Despertar o amor pelo estudo, enraizando os conhecimentos através dos métodos sintéticos e buscando a ciência não apenas nos livros, mas em todas as coisas. Os conteúdos ensinados têm suas razões e essas razões devem ser bem esclarecidas aos alunos, assim como sobre a utilidade desses conteúdos visto que “[...] nada deve ser aprendido em vão. (Comênios, 2001:281). O conhecimento adquirido deve ser compartilhado com outros, para que se perpetue.

Por fim, os ensinamentos não necessitam ser demasiadamente longos e demorados para serem considerados válidos. Os caminhos a serem percorridos necessitam ser feitos não por atalhos, mas sobretudo sem rodeios para que se alcance os objetivos com rapidez. Ao fazer referência ao sol, como sendo responsável por diversas tarefas na Terra e assim realizando-as de maneira simultânea e contínua, Comênios defende a idéia de um único professor por classe, além de um método de ensino que permita a união dos conteúdos que acabam por desencadear-se de maneira constante, atrelados entre si e sem interrupções. Acerca de todas as suas sugestões, Comênios fundamenta seus ensinamentos, explicando claramente as objeções que eventualmente podemos fazer aos mesmos, ressaltando a relevância destas práticas para que se economize “tempo e fadiga” tanto ao ensinar quanto ao aprender.

A leitura de autores como Comênios nos leva a enxergamos o nosso presente como um resultado de construções históricas, as quais optamos muitas vezes por abandoná-las, mas que ao atravessarem gerações refletem ainda hoje as suas verdades. Nunca é demais ressaltar para vocês leitores que se trata de um texto editado pela primeira vez em 1657, que entre prenúncios ou coincidências ainda se faz presente em nossa educação.

(Diego Cardoso e Mariana)

2 comentários:

Unknown disse...

Parabéns! Diego e Mariana, a apresentação de vocês foi brilhante! É inspirador e esperançoso vê-los tão animados com a educação. Percebê-los, como diz Comênios, como "atores" de suas histórias-sujeitos historicidados e construtores dos seus conhecimentos, faz soar mais forte a 'Didática Magna'.
Abraço,
Ludmila Duarte.

marcia disse...

Jorge Nagle desenpenhou papéis importantes na historia da educação na primeira república.Foi mentor de grandes discussões relacionadas à evolução da educação.Ele foi um marco nesse peíodo ,pois era audacioso ,desafiador,publicou obras importantíssimas onde dispertava o interesse de vários profissionais em querer acreditar na educação,dixando-os entusiasmados e levando-os a melhor entender as questões emblemáticas que surgiam na ocasião.