domingo, 13 de junho de 2010

Lembrança de infância de Leonardo da Vinci

FREUD, Sigmund( 1856 - 1939)


            Em 1910, o psicanalista Freud escreveu sobre Leonardo da Vinci, se propondo a estuda-lo, analisando-o em suas inibições tanto em sua vida sexual como em atividades artísticas. Freud também cria teorias em torno do conceito de sublimação. Para Freud, Leonardo da Vinci era um “gênio poliforme” e por ser tão versátil virou artista, escritor e cientista. O desenvolvimento investigativo de Leonardo desviou e abafou o desenvolvimento artístico. Por possuir diversos talentos e uma curiosidade imensa Leonardo foi considerado um homem à frente de sua época, mas era uma homem qualquer e por melhor que fosse não escapava de marcas que as pessoas construíam do sujeito.
            O ponto central do trabalho de Freud consiste em uma lembrança de infância relatada por Leonardo da Vinci em um tratado sobre o voo das aves. Freud compara o processo de criação artística ao mecanismo de formação dos sonhos e sintomas, sugerindo um parentesco entre o artista e o neurótico, onde a criação artística se nutre de afetos e percepções inconscientes. O desdobramento disto é que a obra de arte é passível de ser interpretada, de ser analisada em seus sentidos e motivações inconscientes. E é isto que vemos Freud realizar no texto “Uma lembrança de Infância de Leonardo da Vinci”, onde a criação artística está posta em uma relação direta com a sublimação de pulsões sexuais infantis de Leonardo da Vinci, sendo que, a partir de sua produção artística e intelectual, Freud tenta reconstruir importantes momentos de sua constituição psíquica. Ainda neste texto Freud mostra de como a arte incita em quem cria e em quem a admira uma importante sensação inconsciente, uma sensibilidade que não passa pela razão. O texto Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua infância é o uma biografia psicanaliticamente orientada.
            Os relatos de Leonardo sobre sua infância foi um prato para Freud. Como Freud já sabia lembranças da infância são uma mistura de memórias fantasias, relatos de pessoas intimas e desejos e interpretações adultas. E de acordo com relatos, Leonardo, filho ilegítimo, passou sua infância só com a mãe e o pai só aparece nos relatos quando já tem cinco anos. A fantasia com um abutre confirmaria, então, a hipótese da vivência com a mãe até pelo menos uns três anos. A cauda é relacionada a uma ideia de sexo oral, que por sua vez representa a amamentação e é associado por Freud como um beijo da mãe. O relato está associado a uma afirmação de predestinação para pesquisas sobre voos de aves que confirmam a intensidade e a importância de pesquisas sexuais infantis em Leonardo. É explicado por Freud a transformação de uma amamentação materna em uma passiva fantasia homossexual também pela ideia das teorias sexuais infantis, já que uma delas é  de que a mulher também tem pênis. O fato de que Leonardo em sua época já era acusado de práticas homossexuais indica que poderíamos associar a sua infância o seu homossexualismo ideal, vinculado ao narcisismo, a identificação com a mãe o faz procurar a si mesmo nos outros.
            Para o estudo de Freud o sorriso de Monalisa tem grande importância. Parece que Leonardo sempre repetia o sorriso enigmático, desinteressado e sensual ao mesmo tempo. Leonardo reviveu nesses sorrisos lembranças relacionadas à mãe segundo Freud. Outro fato interessante é sobre a obra Sant'Ana com Dois Outros, onde Sant'Ana tem Maria em seu colo e Maria, por sua vez, abaixa-se para segurar o menino Jesus, podemos associar ai um relação avó, mãe e filho, relacionada com a situação da ida de Leonardo à casa do pai, lá viviam sua madrasta e sua avó paterna. No quadro mãe e filha apresentam a mesma idade e confundem seus limites corporais em alguns pontos sendo associados a uma ideia de dualidade materna, mãe e madrasta. Exite também a ideia de que o manto que cobre Maria, na pintura, tem forma de abutre e o rabo termina na boca do menino Jesus.
            Leonardo da Vinci era um sujeito de vida singular, quanto à sexualidade, pelo que consta, nunca manteve relações afetivas ou intelectuais com mulheres, esteve sempre cercado de belos rapazes, e sempre rejeitou a sexualidade. Em seus estudos científicos, pouco estudou sobre os órgãos sexuais femininos. Quanto ao seu trabalho, este também teve desenvolvimento peculiar, como a desistência da pintura por um certo período, substituída pela pesquisa natural que, antes, era apenas uma ferramenta para trazer mais perfeição a sua obra; e o posterior retorno à pintura, caracterizado pelo sorriso estereotipado de Mona Lisa nas obras posteriores e a declaração da incompletude de praticamente todas as suas obras. Importante também para a pesquisa freudiana são os relatos acerca de amor e ódio. Segundo Leonardo, tais sentimentos só são legítimos quando oriundos de extenuantes pesquisas, afirmação contraditória com a experiência cotidiana, que nos mostra a impulsividade de tais emoções.
            O objetivo do trabalho foi explicar as inibições na vida sexual e na atividade artística de Leonardo. Seja qual for a verdade sobre a vida dele, não se pode abandonar as tentativas de encontrar uma explicação psicanalítica. Freud enquanto estudava Leonardo inquietou-se com o fato dele ter deixado inacabados quase todos os seus trabalhos de pintura, porque buscava neles uma perfeição que ele próprio achava que nunca conseguiria encontrar. Leonardo era muito lento na execução de seus quadros, tal lentidão foi atribuída por Freud como uma intensa coerção interna para executar suas obras de forma ideal.



Um comentário:

Unknown disse...

Mto bom seu texto!