Anísio Teixeira
1- Percurso histórico de Anísio Teixeira
Anísio Teixeira é considerado uma figura de transição na história da educação, pois era de um período onde não havia academia institucionalizada (atuava na produção de literatura, lecionando, na direção de instancias reguladoras da educação, etc.)
Anísio Spinola Teixeira nasceu em Caetité, á época um importante centro político do sudoeste baiano, em 12 de Julho de 1900. Filho de uma família de Fazendeiros, durante seu percurso de vida foi uma pessoa de respeito pelos projetos realizados. Seus estudos iniciaram-se em colégios jesuítas em sua cidade natal e em Salvador.
1922 – formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais no Rio de Janeiro
1924 – foi nomeado inspetor geral do Ensino do Estado da Bahia.
1925 – viaja para Europa onde observa o sistema educacional de diversos países.
1927 – vai aos Estados Unidos, onde trava conhecimento com as idéias do filosofo e pedagogo John Dewey que muito vão influenciar seu pensamento.
1928 – fez sua pós-graduação na Universidade de Columbia, em Nova York, onde conheceu o pedagogo John Dewey. Retorna ao Brasil e traduz para o português dois trabalhos de Dewey.
1931 – foi nomeado secretario de Educação do Rio de Janeiro, cria uma rede municipal de ensino completa que vai da escola primaria até a universidade.
1932 – participa do manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, tendo publicado neste período duas obras sobre a Educação que junto a suas realizações, deram-lhe projeção nacional. Nesta época havia outros projetos de educação, de caráter nacionalista, como por exemplo: Francisco Campos, a Igreja Católica, as Forças Armadas
Em abril de 1935 completou a montagem da rede de ensino do Rio com a criação da Universidade do Distrito Federal (UDF), que mudou o ensino superior brasileiro, mas ela foi extinta em 1939, durante o Estado Novo. Ainda no ano de 1935, perseguido pelo governo de Getulio Vargas, Anísio refugiou-se em sua cidade natal, onde viveu até 1945.
1935 á 1945 não atuou na área educacional e se tornou empresário na extração de minério no Amapá. Aproxima-se do seu amigo Monteiro Lobato e juntos publicam Educação para a Democracia, além de realizar diversas traduções.
1946 – ele assumiu o cargo de Conselheiro da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciências e Cultura (UNESCO)
1947 – retorna ao Brasil com o fim do Estado Novo e toma posse da Secretaria de Educação de seu Estado Bahia.
1950 – inaugura o Centro Educacional Carneiro Ribeiro, em Salvador, a Escola Parque.
1951 – assumiu o cargo de secretário-geral da Campanha de Aperfeiçoamento do Pessoal do Ensino Superior (CAPES).
1952 – assume como diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (Inep), onde ficou até 1964. Nesta época o INEP tinha autonomia e dinheiro.
Anísio foi um dos idealizadores da Universidade de Brasília (UnB), fundada em 1961, entregou a Darcy Ribeiro, que considerava como seu sucessor, a condução do projeto da universidade.
1963 – tornou-se reitor da UnB.
1964 – foi afastado do cargo por causa do golpe de estado. Foi para os Estados Unidos, lecionar nas universidades de Columbia e da Califórnia.
1965 – retorna para o Brasil.
1966 – tornou-se consultor da Fundação Getúlio Vargas (FGV)
Faleceu em 11 de março de 1971, de modo misterioso. Seu corpo foi encontrado no poço do elevador de um edifício no começo da Avenida Rui Barbosa, no Rio. A policia considerou a morte acidental, mas a família do educador suspeita de que ele possa ter sido vitima da repressão do governo do general Emílio Garrastazu Medici.
Em sua cidade natal, Caetité, está a fundação Anísio Teixeira, presidida por sua filha Anna Cristina Teixeira Monteiro de Barros, com o apoio governamental e da iniciativa privada, a Casa Anísio Teixeira, com biblioteca, museu, cine-teatro e biblioteca móvel, levando o conhecimento e mantém viva a memória do grande educador brasileiro sendo objeto de muitas reportagens em todas as mídias.
No Rio de Janeiro existe o Centro Educacional Anísio Teixeira, escola privada de ensino fundamental e ensino médio, com proposta pedagógica segundo as idéias do educador.
2- A Educação Escolar no Brasil
No texto “A Educação Escolar no Brasil”, Anísio Teixeira fala sobre o modelo de escola da época e expressa sua opinião de como o mesmo deveria ser realizado. Ele explicita o quão pouco satisfatório era a situação educacional brasileira à sua época. Afirma que “... a educação está em permanente transformação, não só em virtude de conhecimentos novos, como em virtude de mudanças decorrentes de própria dinâmica da sociedade” (TEIXEIRA, p. 388).
2.1 Escola Primaria
Anísio Teixeira critica o fato de as escolas não estarem desempenhando sua função democrática, que, de acordo sua proposta, é “a de ministrar uma cultura básica ao povo brasileiro.” (TEIXEIRA, p. 389). Ele acusa o modelo seletivo que as escolas adotavam na época, em que alunos que eram capazes ou “destinados” a prosseguir e que se adaptavam ao ensino cursariam os níveis pós-primários, caso contrário permaneceriam na escola primária ou seriam excluídos.
Teixeira denuncia ainda as conseqüências de desordem na educação, casadas pelo fato de as escolas aceitarem alunos de 7 a 14 anos na primeira série, e a organização seletiva, tornando o ensino de caráter informativo. Ele acreditava que se a escola limitasse as matriculas por idade, poderiam fazer com o ensino atendesse aos interesses, gostos e aptidões de cada idade e serie. “Numa tal escola está claro, nada mais se faz do que adestrar os meninos numa alfabetização sumaria e, depois, treiná-los para os exames de mínimos conhecimentos formais.” (TEIXEIRA, p. 390-391).
Imaginava a escola primária como um local de atividades adequadas, dentro de três setores sendo eles:
• Do jogo, recreação e educação social e física.
• Do trabalho.
• Do estudo
Teixeira ainda propunha uma adequação na arquitetura da escola primária, a fim de se adequarem aos três setores propostas. Assim, tendo em vista um ensino integral, as edificações escolares, deveriam ter: ginásio, auditório, salas de música e de dança para atividades como jogo, esportes artísticas e sociais, pavilhões de arte industrial, bibliotecas e os demais espaços que uma escola integral deve contemplar.
Sendo “a idade o elemento fundamental de graduação e classificação.” (TEIXEIRA, p. 393), devendo ser formado grupos de duas idades para cada serie, iniciado aos 7/8 anos na primeira série e terminando aos 12/13 na sexta série, deixando a escola de ser seletiva e passando a ser formadora e educativa.
2.2 - Ensino Médio
Teixeira fala do ensino médio como sendo “a entrada definitiva no reino de educação seletiva”(pág. 394), onde vigora o “formalismo mas estrito e por verdadeira inflexibilidade de organização” (pág. 394). No ensino médio é estabelecido o ensino superior e o de caráter profissional, onde é estabelecida equivalência dos estudos. Sendo que os cursos profissionalizantes são mais procurados do que os cursos do colegiado. Teixeira acreditava que isso acontecia pelo fato de os cursos profissionalizantes serem mais práticos do que teóricos, diferente do colegiado. O ensino médio, diferente das séries iniciais (escola primaria), graduava praticamente todos os seus alunos.
Anísio compara a educação norte americana como a brasileira, e observa que nos EUA as pessoas procuravam por mais educação; diferente do Brasil, que pela dificuldade encontrada pelas pessoas para continuar seus estudos, deixavam a educação e o processo de construção de conhecimento e crescimento cultural de lado. Ele observa ainda que, no Brasil, aqueles prosseguiam nos estudos era a fim de obterem ascensão social através do diploma. O que Teixeira criticava “Com efeito, a educação é um processo de estabilidade social e apenas secundariamente de ascensão social.” (pág. 396). Afirma também que as funções da escola devem ser cumpridas sem se prejudicarem, onde de acordo com Teixeira “a escola facilita que os mais capazes de cada classe passem à classe seguinte.”(pág. 396).
Em todo o texto Teixeira afirma a importância da educação, coloca que “não há nível de vida em que dela não precisamos para fazer bem o que teremos sempre de fazer”(pág. 397).
2.3 - Custos da Educação
No texto “A educação escolar no Brasil” o autor coloca a real situação da educação na época, onde se caracterizava como uma educação de elite, “a educação não atingir senão os filhos de pais em boa situação econômica na sociedade.”(Teixeira, pág 398). Sendo necessário, na época, uma reconstrução do ensino brasileiro, a fim de assegurar estabilidade e o progresso, no intuito de atingir não apenas uma elite, mas sim todo um povo que passava por um vigoroso processo de mudança de civilização como afirma Teixeira.
Antes o sistema de ensino secundário era particular, considerado como cópia do sistema francês, seguido das escolas profissionalizantes, que eram públicas e gratuitas, não sendo percebido pela sociedade brasileira a importância de expandir o ensino secundário e a graduação para as camadas em ascensão.
Havia na época uma distinção, onde para as elites existiam escolas secundárias particulares, seguida de uma graduação pública e gratuita podendo ser alcançada apenas pelas classes mais altas; estas escolas, na sua grande maioria se concentravam nos grandes centros urbanos da época.
O texto faz comparação entre o investimento de 1948 e 1956 como mostra o quadro abaixo:
Nível de Ensino Investimento 1948 Investimento 1956
Ensino elementar 60,3% 43,2%
Ensino Médio 27,3% 30,8%
Ensino Superior 12,4% 26%
O quadro mostra que havia uma preocupação com as elites do país, onde diminuía o investimento em escolas primarias e aumentava em escolas superiores, sendo que os filhos da alta sociedade obtinham sua educação através dos cofres públicos. Com o intuito de manter o status das elites. Destaca-se no quadro o crescimento no investimento para a educação superior.
Pode-se concluir que na época citada pelo texto de Anísio Teixeira o ensino era pouco satisfatório, atendendo apenas as elites, e formando mão de obra para a nova sociedade. “Os nossos deveres para com o povo brasileiro estão a exigir que demos primeiro a educação adequada às classes populares, a fim de lhes aumentar a produtividade e com ela o seu nível de vida” (Teixeira pág. 411). Devendo haver uma mudança na educação para que a mesma seja adequada e justa, não apenas elitista, com o objetivo de alcançar um progresso real e não ilusório, como vinha sendo, mudando a perspectiva para uma educação para a sociedade.
3 comentários:
Belo texto, Grupo "Retalhos"!
Queria perguntar uma coisa: li em certa publicação, à qual não tenho mais acesso, que argumentaram com Anísio Teixeira, quando propôs a Escola-Parque como solução, que isso seria muito caro. Ao que ele respondeu que, na verdade, "toda a guerra é cara!"
Você conhecem esse episódio? sabem onde foi descrito?
Obrigada,
Sílvia.
A seletividade da educação continua sendo um dos grandes problemas da área, conseguir propocionar educação sem segregar ou causar desistência, oportunizando a continuação dos estudos para todos é algo discutido por Anísio, pelo projeto plural entre outros. Apesar dos apontamentos positivos, ainda não há uma fórmula que tenha conseguido resolver tal problema, mas da década de 50/60 para cá a educação já não é um bem para as elites e tem sido cada vez mais contextualizada a realidade social, devemos nos atentar não somente para os retrocessos ou obstáculos, mas também para os avanços.
A seletividade da educação continua sendo um dos grandes problemas da área, conseguir propocionar educação sem segregar, causar desistência, oportunizando a continuação dos estudos é algo discutido por Anísio, pelo projeto plural e outros. Apesar dos apontamentos ainda não há uma fórmula que tenha conseguido resolver tal problema, mas da década de 50/60 para cá a educação já não é um bem para as elites, tem sido contextualizada a realidade social, entre outros, devemos nos voltar não somente para os retrocessos ou obstáculos, mas também para os avanços.
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