sábado, 25 de junho de 2011

Universidade: responsabilidade social e democratização do ensino


Universidade: responsabilidade social e democratização do ensino
Um pouco de história
O modelo de universidade tal como conhecemos tem sua origem na Baixa Idade Média e remonta aos grandes debates filosóficos do conhecimento universal. Na perspectiva de Trindade (1998) é possível vislumbrar quatro períodos básicos da história da universidade.
O primeiro período é o do século XII até o Renascimento, que conhecemos como da invenção da universidade tradicional em plena Idade Média. Tal modelo é ilustrado na cinegrafia em filmes, como por exemplo, “Em nome de Deus”, “Lutero” e na série “Harry Potter”, onde os debates e confrontos de Idéias eram bem freqüentes.
O segundo período começa no século XV, se caracteriza por seguidos impactos devido aos avanços comerciais do capitalismo e do humanismo literário e artístico florescente na Itália. A Universidade, neste período, foi influenciada também pelos efeitos da Reforma e da Contra- Reforma.
As descobertas que seguem ao século XVII, no campo das ciências e dos saberes em geral trazem o espírito iluminista (Séc. XVIII) para dentro da Universidade baseado no espírito crítico, na liberdade e tolerância religiosa.
Por sua vez, A Revolução industrial Francesa gerará junto ao contratualismo e ao Estado como Poder máximo, a institucionalização dessa Instituição moldando um tipo de ciência que só se desenvolverá plenamente no século XIX. O quarto período que Trindade chama de Moderno: “[...] começa no século XIX e chega aos nossos dias, introduzindo uma nova relação entre Estado e Universidade, permitindo que se configurem as principais variantes padrões das universidades atuais” (1998, p. 6).
Na América Latina até fins do século XVII, existe uma rede de 12 instituições de norte a sul do continente. A primeira é de, em Santo Domingo (1538), Córdoba, na Argentina (1613) Universidade de Salamanca, e a Universidade de Alcalá, (atual Complutense), e até fins do século; todas seguindo uma linha tradicional ligadas ao ensino da teologia, leis, artes e medicina.
No Brasil, a universidade se institucionaliza apenas no nosso século, mas quando da transferência da Corte para o Brasil, cria o primeiro curso de cirurgia, anatomia e obstetrícia (IBDM, p. 7). A chamada “universidade temporã” se organiza após a década de 20 como cita Anísio Teixeira (1989, p. 98): “[...] o Brasil esteve fora do processo universitário quando o tema principal do debate, na século XIX, era “a nova universidade, devotada à pesquisa e à ciência”.

Responsabilidade social e democratização do ensino
Temos como responsabilidade social e a democratização do ensino representam um compromisso contínuo nas universidades, sejam elas públicas ou privadas, e ocupam um papel relevante na tomada de decisão em favor da construção de uma nova consciência global. Esta postura caracteriza-se pelos constantes compromissos e cooperações que o ensino superior no contexto latino-americano e nos países emergentes vem desenvolvendo nestas últimas décadas em favor das camadas menos privilegiadas da sociedade como um todo.
Pedro Goergen (2003) ao tecer considerações sobre a função social da universidade, nos chama a atenção de que estes temas não devem caracterizar apenas as tarefas que já cabem a universidade realizar, pois as ações de ensino, pesquisa e extensão, como afirma Goergen, já são encargos do fazer universitário. Desta forma, cabe a universidade inserir em seus encargos a tarefa da “formação”, não como mais um item, mas como um conceito assumido nas ações do fazer universitário. Nesse sentido cabe a universidade num modo mais amplo cumprir uma função de socialização do conhecimento desde que este tenha uma configuração social que se transforme em um fator decisivo no processo de hominização e de modo peculiar da humanização do ser humano.
Dias Sobrinho (2005) faz sua avaliação sobre o papel social da universidade, enquanto formadora de cidadãos, compreendendo que para tratar da universidade, da sociedade e da democracia é preciso considerar e refletir sobre o processo de globalização, sem o qual não será possível obter um entendimento amplamente aceitável sobre qualquer um desses temas.
Neste sentido, o autor aponta que não há consensos razoáveis sobre a relação estabelecida entre a universidade e a sociedade do mundo globalizado e qualquer análise realizada, não poderá separá-la desse contexto mundial, nem muito menos da complexa e contraditória sociedade a qual a instituição universitária faz parte.
Nada em nosso tempo pode ser pensado sem que sejam levadas em conta as características atuais da globalização. Tendo em vista que os esquemas simples de compreensão da realidade social são insuficientes para dar conta da complexidade e da pluralidade de sentidos dos fenômenos humanos, especialmente com a fragmentação e a multiplicação dos conhecimentos, das informações e dos intercâmbios, já não se pode pensar que uma instituição central da sociedade, radicalmente ligada às mudanças do mundo, como é o caso da universidade, possa ser explicada a partir de uma única idéia ou de um só princípio interno. (DIAS SOBRINHO, 2005, p.164)

E, com relação à questão da formação da cidadania o autor considera que novos sentidos têm sido introduzidos, não sendo apropriado depreciar nem os valores que geram a obtenção da cidadania democrática, nem os da capacitação que geram a inovação e as mudanças tecnológicas, pois entende-se que a formação poderá focar tanto as questões de interesse público, quanto as que atendam aos interesses do mercado tecnológico e altamente competitivo.
O conhecimento e a formação devem cumprir os requisitos universais, devem ser relevantes para o contexto regional e nacional - global e internacional e devem servir ao desenvolvimento econômico, porém como um instrumento da humanização e não como horizonte último e razão determinante da sociedade. Sendo assim, o conhecimento e a formação devem gerar cidadania e princípios éticos, ao se contrapor às possíveis assimetrias geradas nas esferas econômicas, sociais e culturais. Devem ainda, promover uma integração na vida democrática, embasada por leis de interesse geral que assegurem o exercício da cidadania pública e que sustente as instituições sociais. Logo, a formação promovida pela educação superior não deve subestimar a ética e a técnica, devendo sim ser responsável pela elevação e ampliação da sociedade e da democratização política e econômica, consolidando assim a democracia. (DIAS SOBRINHO, 2005)
Dias Sobrinho (2005) se refere ao papel da responsabilidade social na educação superior, ponderando que não há por que rejeitar os progressos materiais quando eles são fundamentados na produção de sentidos, na ética da justiça social, das políticas de maior inclusão e da mais ampla participação dos cidadãos na vida pública:
...a responsabilidade social da educação superior deve significar relevância científica e pertinência, fortalecimento da vida democrática e da justiça social, aprofundamento da ética e do sentido estético da sociedade. O sentido essencial da responsabilidade social da educação superior consiste em produzir e socializar conhecimentos que tenham não só mérito científico, mas também valor social e formativo. Portanto, que sejam importantes para o desenvolvimento econômico que tenha sentido de cidadania pública. (DIAS SOBRINHO, 2005, p.)

Segundo avaliação do autor, a realidade das transformações globais impõe a produção de novas visões e de novos papéis da educação superior, bem como suas relações com a sociedade civil e com o Estado, essas relações sinalizam para a necessidade de construções de reformas que propiciarão o desenvolvimento econômico e que, sobretudo, venham a ser fundamentais na verdadeira vida democrática. A globalização faz com que a universidade se foque na promoção de uma formação que atenda às demandas profissionais diferenciadas exigidas por uma sociedade industrializada e que espera das instituições universitárias o exercício do papel estratégico na construção de uma sociedade democrática, na qual deverá essencialmente, produzir conhecimento e formar cidadãos com valores sociais. (DIAS SOBRINHO, 2005)
A função social e a democratização do ensino superior consiste em desenvolver o processo de socialização dos conhecimentos numa perspectiva de estabelecer a interação com o meio na qual encontra-se inserida. No intuito de promover o desenvolvimento e a inclusão social daqueles que em virtude de uma ideologia cujos valores estão impregnados do individualismo, da competitividade e da falta de solidariedade. Assim, entende-se que a universidade, enquanto incubadora de novos conhecimentos, alicerçada no paradigma científico, ocupa um papel decisório na formação da cidadania.
As instituições de ensino superior devem desenvolver políticas que reflitam as necessidades do homem contemporâneo, ao invés de serem meras reprodutoras do status quo e da aceitação passiva e alienante das ideologias dominantes. Partindo do princípio de que há uma consciência que existe desigualdade social, isto requer um posicionamento das instituições, dentre elas, a universidade em desenvolver projetos que atendam o clamor dos excluídos, em vista da dignidade e da valorização da pessoa.
No entanto, tais ações não possuem um caráter somente filantrópico, mas acima de tudo colocar os conhecimentos, a episteme a disposição da sociedade como um todo. Para tanto, a função social do ensino superior possui um caráter dinâmico e ético, pois está alicerçada a uma epistemologia e os aspectos antropológicos que compõe os diferentes grupos sociais.
A tríade ensino, pesquisa e extensão – constituem-se nos principais alicerces para a universidade desenvolver ações sociais que valorizam o humano e justificam a necessidade do sujeito percebe-se como alguém responsável também por estar e participar no contexto social sem olvidar-se do conceito da formação como sua função precípua.
As conseqüências desta perspectiva tendem possibilitar uma conduta ética e de responsabilidade social e democratização do ensino às instituições de ensino no que tange ao aprimoramento das suas ações voltadas efetivamente para o comprometimento das causas sociais. Pois, quando imbuídas desta consciência, a tendência é aumentar ainda mais a propagação do compromisso ético e moral, bem como a transformação social, a consciência crítica, a valorização humana e a interação entre universidade e sociedade.
Desta forma é imprescindível às universidades a ruptura com o cientificismo e a razão instrumental a qual contribuía para o processo de coisificação do homem, pela inserção de uma sensibilidade social, de cunho cada vez mais sistêmico, o que deve impulsionar a uma tomada de decisão frente às questões sociais.

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